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Combater a resistência antimicrobiana: construir um futuro resiliente

Encontrar novos tratamentos com antibióticos contra bactérias e poder utilizá-los é um desafio enorme, sobretudo se considerarmos também a crescente ameaça das infeções resistentes aos medicamentos. Por conseguinte, é vital que a produção pecuaria faça tudo o que estiver ao seu alcance para reduzir o seu contributo para o aumento e a propagação da resistência antimicrobiana.

A carne de frango e os ovos são ricos em proteínas e versáteis, e por isso são o ingrediente principal em muitas refeições. A carne de aves é uma das carnes mais consumidas em todo o mundo, estima-se que o consumo mundial possa atingir os 91 milhões de toneladas até 2032. Considerando este nível de consumo, podemos afirmar que os produtos avícolas são uma importante fonte de nutrição. No entanto, as galinhas e os ovos podem estar contaminados com patógenos que causam doenças transmitidas por alimentos, como Campylobacter, Salmonella e Clostridium perfringens. Estas bactérias podem propagar-se aos produtos alimentares durante o abate e processamento, causando infeções transmitidas através por alimentos. Estas infeções constituem um grave problema de segurança alimentar e de saúde pública.

Tradicionalmente, estes agentes patogénicos têm sido tratados com produtos antimicrobianos, mas esta prática levou a um aumento da resistência antimicrobiana (RAM). Embora a resistência antimicrobiana ocorra naturalmente ao longo do tempo, o uso indevido e excessivo dessas ferramentas em seres humanos, plantas e animais de produção acelerou-a. Tal como as doenças transmitidas por alimentos, a resistência antimicrobiana é um problema de segurança alimentar, uma vez que as bactérias resistentes e os genes de resistência podem propagar-se dos animais para os seres humanos ao longo da cadeia alimentar. De facto, a resistência antimicrobiana é uma das dez maiores ameaças à saúde mundial. A resistência antimicrobiana significa que as infeções se tornam mais difíceis de tratar, resultando em hospitalizações mais longas e em mortalidade mais elevada. A nível mundial, 4,95 milhões de mortes por ano estão associadas à resistência antimicrobiana, que poderá aumentar para 10 milhões por ano até 2050 se não forem tomadas medidas. A resistência antimicrobiana é também um enorme encargo económico. No Reino Unido, estima-se que custe ao Serviço Nacional de Saúde 180 milhões de libras por ano (215 milhões de euros) e o encargo estimado nos EUA é de 50 mil milhões de euros por ano: 18,2 mil milhões de euros em cuidados de saúde e 31,8 mil milhões de euros resultantes de perda de produtividade.

Consciencializar

A crescente sensibilização e preocupação com a resistência antimicrobiana levou muitos países a proibir a utilização de antibióticos promotores do crescimento na alimentação animal. No entanto, estas proibições não são suficientes para travar o aparecimento crescente da resistência antimicrobiana, uma vez que as taxas de resistência permanecem elevadas, apesar das restrições à utilização de antibióticos. No último relatório de síntese da União Europeia sobre este tema (2021-2022), a resistência global dos isolados de frangos e perus às fluoroquinolonas (ciprofloxacina) foi muito elevada (55,5% e 57,9%, respetivamente). Também foi elevada nas galinhas poedeiras (24,7%). A resistência dos isolados de Salmonella Kentucky  à ciprofloxacina em frangos, poedeiras e perus foi extremamente elevada (84,2%, 82,1% e 100%, respetivamente). Este facto realça que a resistência antimicrobiana é um importante problema de segurança alimentar.

É, por conseguinte, vital que encontremos formas de reduzir a resistência e aumentar a sensibilidade bacteriana aos antibióticos. É evidente que não existe uma «solução milagrosa» para prevenir e controlar a propagação da resistência antimicrobiana na avicultura, pelo que será necessária uma abordagem multifacetada para resolver o problema. Esta abordagem deve incluir:

  • Melhoria da biossegurança, saneamento rigoroso e gestão cuidadosa dos residuos.
  • Redução da utilização de antibióticos, sob supervisão veterinária.
  • Banir o uso de antibióticos promotores de crescimento.
  • Um programa robusto de vacinação, vigilância de doenças e controle de vetores.
  • Nutrição adequada.
  • Alternativas aos antibióticos e melhoria da saúde intestinal.

Fração rica em Mannan

As alternativas aos antibióticos geralmente procuram melhorar a saúde intestinal e o microbioma da ave. É o caso da fração de levedura rica em manano derivada da parede celular (MRF) da Alltech, que demonstrou apoiar o desempenho e a saúde das aves como alternativa aos antibióticos, através da modulação do microbioma, da ligação de bactérias patogénicas e da promoção da saúde intestinal. No entanto, pesquisas recentes mostraram que o MRF pode afetar também a suscetibilidade bacteriana a antibióticos.

Figura 1 – Efeito do MRF e do tratamento com antibióticos no crescimento de  E. coli resistente a antibióticos

 

Enquanto as primeiras pesquisas se concentraram na capacidade do MRF de controlar patógenos como a Salmonella e o E. coli, melhorar a saúde intestinal e aumentar a diversidade do microbioma intestinal, pesquisas publicadas mais recentemente (Smith et al., 2017; Smith et al., 2020) centrararam-se no efeito do MRF em bactérias resistentes a antibióticos. A última pesquisa publicada (Smith et al., 2022) mostrou o efeito da suplementação de MRF no crescimento de  E. coli resistente  a antibióticos com e sem tratamento antibiótico em comparação com uma cultura testemunha. Eles concluíram que o MRF reduziu significativamente o crescimento de  E. coli resistente  a antibióticos, em 46% comparativamente à cultura testemunha, e que o MRF em combinação com tratamento antibiótico (AMP, ampicilina) teve uma redução adicional de 73% no crescimento de E. coli resistente a antibióticos  em comparação com a testemunha (Figura 1). Isto indica que a utilização de MRF melhora a sensibilidade das bactérias resistentes aos efeitos dos antibióticos.

Esta pesquisa também demonstrou que o uso de MRF, com ou sem antibióticos, levou à regulação positiva de proteínas do ciclo TCA em E. coli resistente. Estas proteínas são reguladas em alta sob condições de stress oxidativo e stress antibiótico. Além disso, o MRF aumentou a formação de espécies reativas de oxigénio (ROS) em E. Coli resistente em 42% comparativamente à testemunha e quando o MRF foi combinado com antibióticos, o aumento foi de 59% (Figura 2). As ROS desempenham um papel no metabolismo microbiano e na resposta aos fatores de stress ambiental. Portanto, esses aumentos nas proteínas do ciclo TCA e na produção de ROS podem estar relacionados com efeitos bactericidas mais eficientes e à mudança na suscetibilidade aos antibióticos do organismo resistente.

Abordagem holística robusta

Figura 2 - Efeito do MRF na produção de ROS em E. coli resistente a antibióticos com e sem tratamento antibiótico

Uma vez que a carne de frango e os ovos são os ingredientes principais de muitas refeições em todo o mundo todos os dias, é extremamente importante que os alimentos produzidos pela indústria avícola sejam seguros. Este aspeto é crucial para reduzir as infeções de origem alimentar por Salmonella, Campylobacter e E. coli, diminuindo assim a mortalidade, aliviando os encargos económicos e reduzindo a potencial propagação da resistência aos antibióticos da pecuária para a população humana.

Adotar uma abordagem robusta e holística para aumentar a segurança alimentar na produção de aves é vital e o uso de soluções inovadoras, como o MRF, pode ajudar a alcançar o objetivo de reduzir a prevalência de bactérias resistentes e proteger a saúde pública. Foi demonstrado que a fração rica em manano (MRF) funciona de três maneiras complementares para ajudar a alcançar este objetivo: apoia o microbioma e a saúde intestinal da ave, tornando o uso de antibióticos menos necessário, aumenta a eficiência dos antibióticos quando são necessários e, desta forma,  ajuda a diminuir a prevalência de bactérias resistentes. Isto, no seu conjunto, ajuda a produção pecuária a reduzir o seu contributo para o crescimento e a propagação da resistência antimicrobiana.

Autor: Dr. Harriet Walker, Alltech

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